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glória

Constrói pontos fortes  Mas tem pernas frágeis E não consegue os carregar  Num tempo onde silêncio não criava paz  A terra era um temporal, tudo eram temporais Na cidade de um poeta esquecido Pagão, por si mesmo proibido Num padrão distorcido Dentro do olhar dele, nada precisava ser dito Parecia com o temporal, temperava a terra, reprimido Grandes vultos sopravam, vendavais  Se formavam furacões, e havia mais A terra foi de temporal para se lavar de tempos antigos Quando loucos entravam sem antes bater à porta Alguns chamaram de misericórdia O poeta ousou os chamar de perigo Teve companhia uma vez, mas o bichano foi embora Assim como qualquer outro que havia visto  Passou a pensar que pôr esperança em outro alguém era abusar do seu espírito  A chuva e o vento não o faziam refém, o chamavam para o lado de fora  Ele nunca soube que era como qualquer outro homem a quem a rima convém Nunca deu ouvidos a ninguém  E pensar que a chuva chovia vinte e qua...
  sei que já vou chegar, e não quero entrar sozinha, mas, da sua presença, deus me livra a tua memória me torna menor, faz minha coragem desconhecida, envergonha meu peito, entre seu apontar de dedo e minhas ruínas tua inquietação requer dó e atenção, chama pra perto, pra me desfazer com ira quando eu estendo a mão, você retarda a minha visão, me cerca e me desanima suas perguntas me respondem o que, dos homens tolos, eu tenho para duvidar; me desvirtuam da minha vaidade e me devolvem, pra me afastar você pensa que tem vantagem, mas tem cheiro de mar que leva e não deixa voltar teu portão de casa é estreito, e eu soube que era um sinal de que eu não devia entrar

você é como eu

meu lugar favorito é tão alto que arranha o céu. meu segundo lugar favorito tem a altura da sua boca. vejo seu cabelo solto passeando pela casa. noto que eu estou usando a mesma roupa. deixo na música um tom baixo para a poesia retornar. salto contra as ondas que batem e me assustam para fora do mar. eu pulo por não saber de um lugar para ser devagar. eu grito porque, se eu me inclinar, eu sei que eu me deixo nadar. e é perto do céu o lugar onde eu navego, onde dito versos que guardo e carrego. na rua, acho nas coisas um pouco de mim. me mostre que sou feita de vaidade, eu não nego, e te mostro que escrevo um pouco de mim. se for cantarolar minhas palavras, eu deixo levar. minha vaidade anda curta. o que eu comporto agora, não quero soltar. vai precisar de mim, enquanto eu precisar. e me deixar ficar sozinha para me confortar. e deixar parar, para voltar ao início. meu terceiro lugar favorito é o pouco que tenho, e tenho um pouco mais dele do que de fato preciso. me seduz por vir dispo...

Eva

Essa semana, eu sorri ao te ver. Ri ao te acompanhar. Junto a você, vi o sol amanhecer, e até sobre o vento me fez querer cantar. Me inspiro nos teus gestos, moro nos teus olhares. Em mim, não sobram os restos de pegadas ou marcas de outros lugares. As sombras que acompanham seus traços são levadas até perto da minha casa, deixadas em pedaços, à medida que te desfaço de madrugada. No tom mais baixo, deixo a música; no toque, a poesia nos faz conhecer nas telas em branco onde pinto suas curvas, faço o ar quente nos reconhecer. Nas tardes, são você as cores frias, inimigas das minhas brigas. Faz das minhas piadas crescerem boêmias, as intuições e certezas não serem tão minhas. Essa semana, eu pedalei pra te ver. Deitei no teu peito — e ninguém mais existia. Fui brincar de te querer sem perceber, mas você sabia ver o que minha alma via. Se não era você — quem mais seria?

meus oceanos

 vivo intenso e morro em paz para ter a volta  desenham-se curvas em algum lugar antes que o mundo dê seus giros não houveram olhos mirando o inferno que foi o passar dos anos nem da prata da terra, que é de deus, ouviram os risos a música que morreu junto comigo não escapou de si e é cantada hoje aos prantos muita, muita misericórdia eu tive desses oceanos